abril 26, 2014

"Essa coisa de ser gay"

love is equal*

— Sim, eu tenho uma namorada. — ela disse de uma vez, sem papas na língua, surpreendendo-os — Pois é, pasme, uma namorada. No feminino. Uma namorada como a sua, com seios, pele macia, cabelos bonitos e tudo o mais. Uma namorada que tem voz melodiosa, lábios vermelhos e usa vestidos. E não me olhe com esse olhar torto e expressão de quem sabe das coisas. Eu tenho direito de beijar meninas tanto quanto qualquer um de vocês. Eu sei que alguns de vocês nunca irão entender essa coisa de ser gay. Afinal, para os ditos cujos, meninas servem apenas para se ajoelhar para fazer coisas mais indiscretas. Mas deixe-me dizer-lhes uma coisa: há meninas que gostam de meninas. Eu sou uma delas e minha namorada também. Isso não é errado. E se você não entende, não odeie ou conteste. O amor é livre, sem regras e não escolhe raça, religião, nacionalidade, gênero ou qualquer outro rótulo. Ele acontece entre duas meninas ou dois meninos da mesma maneira que entre um menino e uma menina e não há nada que você possa fazer além de respeitar e aceitar. E eu entendo que o que mais vemos por aí são casais heterossexuais e isso nos faz pensar que apenas aquilo é certo e então você se depara com um casal homossexual se beijando, ou até mesmo se abraçando e pensa "nossa, que diferente". E daí se é diferente? Diferente não quer dizer errado. O amor é igual, de qualquer maneira, fim de história.

No final, quando ninguém mais ousou dizer uma só palavra, ela apenas suspirou e, antes de dar as costas, disse:
— Algumas meninas beijam meninas. Supere isso.

abril 03, 2014

Caixinha de vidro

Vintage Glass Curio Jewelry Box Rustic por TheVintageParlor en Etsy

Passei tanto tempo dentro de uma pequena caixinha de vidro que o mundo lá fora já não me seduz mais. O tempo correu e mesmo cobiçando tanto a vida intensa, aprendi a gostar da solidão. Da companhia de mim mesma, das minhas opiniões.

Aprecio as histórias aventureiras lá fora e quero vivê-las tão intensamente, mas quando a oportunidade chega, desisto. Esqueço. Deixo para lá. Porque nada parece real. Nada é como nos livros, como nos filmes, como nas músicas. Às vezes sonhar é bem melhor que realizar.

De um lado, é bom ficar aqui, nessa caixinha de vidro, brincando com meus fios de cabelo, fazendo círculos com os dedos no chão, dormindo e sonhando com aquela vida intensa que quero, mas não quero. Mas de outro, é quase tedioso, rotativo, rotineiro. Mas um tédio do qual aprendi a gostar. Um tédio que amarrei a mim e agora não quero mais soltá-lo. Porque é meu. Porque sim.

Mesmo que as oportunidades da vida lá fora me chamem cada vez mais agora, não consigo deixar esse mundinho dentro da minha caixinha de vidro. Porque sou medrosa. Sou covarde. Sou orgulhosa. Sou tão apegada à minha melancolia solitária que não quero deixá-la. Não estou preparada. E não sei se algum dia estarei.