— Sim, eu tenho uma namorada. — ela disse de uma vez, sem papas na língua, surpreendendo-os — Pois é, pasme, uma namorada. No feminino. Uma namorada como a sua, com seios, pele macia, cabelos bonitos e tudo o mais. Uma namorada que tem voz melodiosa, lábios vermelhos e usa vestidos. E não me olhe com esse olhar torto e expressão de quem sabe das coisas. Eu tenho direito de beijar meninas tanto quanto qualquer um de vocês. Eu sei que alguns de vocês nunca irão entender essa coisa de ser gay. Afinal, para os ditos cujos, meninas servem apenas para se ajoelhar para fazer coisas mais indiscretas. Mas deixe-me dizer-lhes uma coisa: há meninas que gostam de meninas. Eu sou uma delas e minha namorada também. Isso não é errado. E se você não entende, não odeie ou conteste. O amor é livre, sem regras e não escolhe raça, religião, nacionalidade, gênero ou qualquer outro rótulo. Ele acontece entre duas meninas ou dois meninos da mesma maneira que entre um menino e uma menina e não há nada que você possa fazer além de respeitar e aceitar. E eu entendo que o que mais vemos por aí são casais heterossexuais e isso nos faz pensar que apenas aquilo é certo e então você se depara com um casal homossexual se beijando, ou até mesmo se abraçando e pensa "nossa, que diferente". E daí se é diferente? Diferente não quer dizer errado. O amor é igual, de qualquer maneira, fim de história.
No final, quando ninguém mais ousou dizer uma só palavra, ela apenas suspirou e, antes de dar as costas, disse:
— Algumas meninas beijam meninas. Supere isso.